De grande beleza hídrica, a serra tem um tom dourado
especial em seus riachos; isso se deve a decomposição da matéria orgânica
vegetal umidificada, chegando facilmente às águas devido à porosidade do solo,
que também é responsável pela acidez dos rios, empecilho para sobrevivência de
peixes.
Diversas nascentes brotam na Serra do Ibitipoca, divisora
das bacias dos rios Grande e Paraíba do Sul. Em uma das encostas, nascem os
ribeirões da Conceição, Bandeira e o córrego do Pilar, afluentes do Rio Doce.
Em outras, vários córregos formam o Ribeirão do Salto e o Ribeirão Vermelho, o
primeiro pertencente à bacia do Paraíba do Sul e o último, à do Rio Grande.
As nascentes desses rios ficam próximas do ponto mais bonito
(e também o mais longe) de todo o Parque. As águas do Ribeirão Vermelho deixam
corredores de pedras e de vegetação em direção ao norte para atingirem a Janela
do Céu, aonde se chega ao topo da cachoeira de mesmo nome e tem a vista para o
mar de montanhas.
"Entretanto, na
questão dos recursos hídricos, é preciso ressaltar a importância de outras
variáveis, como a vegetação predominante, o tipo de solo, o regime de chuvas”.
“Inúmeras
cachoeiras, em seqüência contínua são formadas no Parque Estadual do Ibitipoca
e imediações, aspecto relevante na atração de muitos turistas que freqüentam a
região. Dentre as cachoeiras mais interessantes cita-se a Cachoeirinha e a
Janela do Céu, esta última com a água caindo após um paredão de grande altura.
Essas duas quedas d’água se encontram na bacia do Rio Vermelho, em local
elevado do parque”.
Em Ibitipoca, a influência do relevo sobre o clima é muito
importante à altitude e a topografia são diferenciadas e sobressaem-se
localmente em relação às áreas vizinhas, originando um clima singular. A
distribuição geral das temperaturas e pluviosidade são muito influenciadas
pelas altitudes e formas de relevo. Contrastam, numa área relativamente
pequena, micro climas e topoclimas com variações consideráveis de umidade,
calor, ventos e até mesmo chuva, influenciando na distribuição dos organismos.
Os micro climas são diversificados pela grande quantidade de paredões, vales em
garganta, grutas, pontes naturais, pequenos adensamentos arbustivos ao longo
dos cursos d’água ou em concavidades do relevo, exposição de vertentes
(portanto várias faces de exposição à luz) e de variação das declividades, bem
como pela variedade de adensamentos de vegetação. Há uma grande diferença no
total de pluviosidade entre os arredores e o Parque, porém, dentro dele, as
chuvas (assim como a umidade relativa do ar) se distribuem com relativa
homogeneidade, se comparadas às áreas mais baixas (abaixo de aproximadamente
1.100m de altitude).
Os conjuntos de vegetação da Serra do Ibitipoca,
especialmente a partir de aproximadamente 1.600m, estão mais vulneráveis os
fortes ventos, o que significa que esses locais se ressecam mais fácil ente,
principalmente no inverno, quando os ventos são ainda mais velozes, e a
pluviosidade diminui, contribuindo para o estresse hídrico dos solos.
O inverno apresenta períodos de seca, que duram, em média
cinco dias, intercalados por cerca de um a três dias úmidos (com pluviosidade
em média, nestes dias “úmidos” de 5 mm/dia) Esses períodos de seca são
suficientes para restringir o avanço das espécies de plantas e animais para as
áreas que apresentem menor capacidade de retenção de água.
As estações de outono e primavera mantém uma média diária de
chuvas por volta de 30 mm/dia, com geralmente, no máximo, dois dias de seca.
Parece haver uma faixa de maior
quantidade de precipitação pluviométrica nas
áreas entre 1.300 e 1.500m de altitude (de mata e adensamento arbustivo),
aproximadamente. Isso ocorre porque os ventos vindos de sul, sudoeste, mais
continentais e frios, (e o principal vale, entre as duas cristas anticlinais,
está voltado para o sul) formam correntes excedentes nas vertentes do vale do
Rio do Salto, aumentando a nebulosidade.
As médias da umidade relativa do ar mantêm-se altas durante
todo o ano e praticamente em todas as áreas do Parque, com pequenas diferenças
de aproximadamente 5% a menos para os períodos mais frios e secos. Ocorre
aumento da umidade relativa do ar através das nuvens formadas por orografia
(ascensão do ar, ventos e formação de nebulosidade por influência da forma de
relevo montanhoso) e, com isso, tempestades e chuvas isoladas e aumento da
altura da pluviosidade mensal em cerca de 200 mm com relação aos
arredores da área do Parque. As temperaturas diminuem cerca de 0,5°C a cada 100m de altitude
em direção aos altos nos períodos mais frios e secos, e cerca de 0,4°C nos períodos mais
quentes e úmidos.
Texto: Dra. Luciana Graci Rodela (Doutora em Geografia
Física)
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