segunda-feira, 25 de agosto de 2014

"Ibitipoca, na questão dos recursos hídricos, é preciso ressaltar a importância de outras variáveis, como a vegetação predominante, o tipo de solo, o regime de chuvas”



De grande beleza hídrica, a serra tem um tom dourado especial em seus riachos; isso se deve a decomposição da matéria orgânica vegetal umidificada, chegando facilmente às águas devido à porosidade do solo, que também é responsável pela acidez dos rios, empecilho para sobrevivência de peixes.

Diversas nascentes brotam na Serra do Ibitipoca, divisora das bacias dos rios Grande e Paraíba do Sul. Em uma das encostas, nascem os ribeirões da Conceição, Bandeira e o córrego do Pilar, afluentes do Rio Doce. Em outras, vários córregos formam o Ribeirão do Salto e o Ribeirão Vermelho, o primeiro pertencente à bacia do Paraíba do Sul e o último, à do Rio Grande.
As nascentes desses rios ficam próximas do ponto mais bonito (e também o mais longe) de todo o Parque. As águas do Ribeirão Vermelho deixam corredores de pedras e de vegetação em direção ao norte para atingirem a Janela do Céu, aonde se chega ao topo da cachoeira de mesmo nome e tem a vista para o mar de montanhas.



“O curso d’água principal da região de Conceição do Ibitipoca é o Rio do Peixe, que tem como principal afluente o Rio do Salto. O Rio do Peixe como o do Salto, obedecendo ao controle estrutural das rochas, segue seu curso mostrando vales com amplas exposições rochosas, tanto nas vertentes como no leito dos cursos d’água, ocasionando pequenas cachoeiras e poções”.

"Entretanto, na questão dos recursos hídricos, é preciso ressaltar a importância de outras variáveis, como a vegetação predominante, o tipo de solo, o regime de chuvas”.




“Inúmeras cachoeiras, em seqüência contínua são formadas no Parque Estadual do Ibitipoca e imediações, aspecto relevante na atração de muitos turistas que freqüentam a região. Dentre as cachoeiras mais interessantes cita-se a Cachoeirinha e a Janela do Céu, esta última com a água caindo após um paredão de grande altura. Essas duas quedas d’água se encontram na bacia do Rio Vermelho, em local elevado do parque”.

Em Ibitipoca, a influência do relevo sobre o clima é muito importante à altitude e a topografia são diferenciadas e sobressaem-se localmente em relação às áreas vizinhas, originando um clima singular. A distribuição geral das temperaturas e pluviosidade são muito influenciadas pelas altitudes e formas de relevo. Contrastam, numa área relativamente pequena, micro climas e topoclimas com variações consideráveis de umidade, calor, ventos e até mesmo chuva, influenciando na distribuição dos organismos.


































Os micro climas são diversificados pela grande quantidade de paredões, vales em garganta, grutas, pontes naturais, pequenos adensamentos arbustivos ao longo dos cursos d’água ou em concavidades do relevo, exposição de vertentes (portanto várias faces de exposição à luz) e de variação das declividades, bem como pela variedade de adensamentos de vegetação. Há uma grande diferença no total de pluviosidade entre os arredores e o Parque, porém, dentro dele, as chuvas (assim como a umidade relativa do ar) se distribuem com relativa homogeneidade, se comparadas às áreas mais baixas (abaixo de aproximadamente 1.100m de altitude).

As diferenças de pluviosidade entre um topoclima e outro são suficientes para influenciar na distribuição dos organismos, se aliada às características físicas do ambiente (formas de relevo, propriedades e estruturas dos constituintes dos solos e litologia e estrutura da vegetação), pois a água essencial para todas as formas de vida. Constitui-se no fator mais importante para distribuição de umidade.
Os conjuntos de vegetação da Serra do Ibitipoca, especialmente a partir de aproximadamente 1.600m, estão mais vulneráveis os fortes ventos, o que significa que esses locais se ressecam mais fácil ente, principalmente no inverno, quando os ventos são ainda mais velozes, e a pluviosidade diminui, contribuindo para o estresse hídrico dos solos. 

O inverno apresenta períodos de seca, que duram, em média cinco dias, intercalados por cerca de um a três dias úmidos (com pluviosidade em média, nestes dias “úmidos” de 5 mm/dia) Esses períodos de seca são suficientes para restringir o avanço das espécies de plantas e animais para as áreas que apresentem menor capacidade de retenção de água.
As estações de outono e primavera mantém uma média diária de chuvas por volta de 30 mm/dia, com geralmente, no máximo, dois dias de seca. Parece haver uma faixa de maior 
quantidade de precipitação pluviométrica nas áreas entre 1.300 e 1.500m de altitude (de mata e adensamento arbustivo), aproximadamente. Isso ocorre porque os ventos vindos de sul, sudoeste, mais continentais e frios, (e o principal vale, entre as duas cristas anticlinais, está voltado para o sul) formam correntes excedentes nas vertentes do vale do Rio do Salto, aumentando a nebulosidade. 

As médias da umidade relativa do ar mantêm-se altas durante todo o ano e praticamente em todas as áreas do Parque, com pequenas diferenças de aproximadamente 5% a menos para os períodos mais frios e secos. Ocorre aumento da umidade relativa do ar através das nuvens formadas por orografia (ascensão do ar, ventos e formação de nebulosidade por influência da forma de relevo montanhoso) e, com isso, tempestades e chuvas isoladas e aumento da altura da pluviosidade mensal em cerca de 200 mm com relação aos arredores da área do Parque. As temperaturas diminuem cerca de 0,5°C a cada 100m de altitude em direção aos altos nos períodos mais frios e secos, e cerca de 0,4°C nos períodos mais quentes e úmidos.

Texto: Dra. Luciana Graci Rodela (Doutora em Geografia Física)


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